Ou, como se dizia quando eu era criança, um cházinho de tefraga com uns bolinhos de temanca. Tem muita coisa simplesmente ridícula rolando por aí, e é impressionante como muita gente não se apercebe de como essas coisas são ridículas.
Lembram daquele papo revolucionário, inovador e filosófico sobre a “credibilidade dos blogs”? Que logo desenvolveu, tal qual um Pokemon, para “a responsabilidade dos blogs”? E a guerra santa contra um certo jornalão cujo nome não vou mencionar? A jihad de suscetibilidades ofendidas, as declarações de auto-importância, as exigências de respeito, o revanchismo?
ONDE FICOU TUDO ISSO?
Uns dois meses depois, tudo isso passou à segundo plano. Brigas, escândalos e discussões bizarras são o assunto da hora. Besteiras sem importância alguma viraram sagas bíblicas de proporções épicas. O que levou à (oportunos) questionamentos sobre a maturidade da blogosfera.
Eu vou explicar uma coisa pra vocês: a blogosfera não existe. Ou melhor, a blogosfera/Efigênia não existe como ente com consciência própria. A blogosfera somos nozes.
No máximo, a blogosfera pode ser uma egrégora. A definição da Wikipédia em português é sofrível, mas vamos lá:
Egrégora provém do grego “egrégoroi” e designa a força gerada pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade. Todos os agrupamentos humanos possuem suas egrégoras características: todas as empresas, clubes, religiões, famílias, partidos, etc.
Em miúdos, uma egrégora participa ativamente de qualquer meio, físico ou abstrato. Quando a energia é deliberadamente gerada, ela forma um padrão, ou seja, tem a tendência de se manter como está. No mais, as egrégoras são “esferas” (concentrações) de energia comum. Quando várias pessoas tem um mesmo objetivo comum, sua energia se agrupa e se “arranja” numa egrégora.
Como você pode ver, mesmo através dessa definição sofrível, o “ente” blogosfera é formado por nós, blogueiros. Como eu já disse aqui, a blogosfera nada mais é do que o reflexo ou produto de seus membros.
Digamos que no nosso caso o principal objetivo comum é blogar. Fora isso, a coisa se complica, pois não há outro objetivo que seja compartilhado por todos. Temos inúmeras ideologias, filosofias, valores e parâmetros diferentes. A blogosfera é cacofônica, tem milhares de cabeças e milhões de vozes.
Então, se a blogosfera é formada por esse enorme número de seres humanos, e nada mais é do que o reflexo deles, de onde saiu a idéia de que a blogosfera é uma coisa sacrossanta, o último e mais novo reduto da decência, da inteligência e da pureza?
Não entendeu? Vejamos um exemplo. As desavenças são mal vistas na blogosfera. Você tem que se dar bem com todo mundo, gostar de todo mundo, ou no mínimo fazer de conta que. Se você externaliza seu desagrado por quem quer que seja, é o fim do mundo. É grosseria, e falta de respeito – quer você falte com o respeito ou não. É considerado ridículo e vergonhoso ter um problema com alguém.
Eu acho que ridículo é esperar que num panorama tão diverso, todo mundo goste de todo mundo. Repito, somos seres humanos, faz parte do trabalho discutir, discordar e até brigar. Harmonia completa e infinita é utopia, no mundo real e em qualquer outro mundo.
No outro extremo, temos o pessoal que acha que no mundo virtual se pode fazer qualquer coisa, e não ter as mesmas consequências que seriam enfrentadas no “mundo real”. Se você acha que na blogosfera é possível mentir, enganar e manipular pessoas, e que ninguém vai perceber o que você está fazendo, cuidado: você está cavando um buraco para se jogar dentro. É muito possível que você pense que está abafando, quando na verdade as pessoas estão cochichando: “O rei está nu.”
Resumindo: vamos cair na real, minha gente. A blogosfera não é um mundo perfeito onde chove maná, nem uma terra de ninguém onde vale tudo e não há consequências. Na blogosfera se aplicam as mesmas regras da vida: jogo limpo, dignidade, respeito, coerência e bom senso são imprescindíveis. Ser fiel à si mesmo (por muito clichê que seja) é fundamental. Gostar de tudo e de todos é impossível. Shit happens.
E aqui como lá, o semancol e a vergonha na cara estão em falta.
Lu Monte
Você disse com muita propriedade o que eu venho resmungando por aà nos últimos dias…Quanto a sacralizar a blogosfera, esse é o mesmo movimento que existe quanto à sociedade, como se ela não fosse formada por cada indivÃduo.
Willian Rabelo
Oi Nospheratt,Conheço o seu blog já tem um tempo, mas é o meu primeiro comment.Concordo com o seu post e não acredito que o problema seja somente na blogosfera, é algo generalizado esse sentimento “tudo bem, lets leave it as it is“. Não quero ser o profeta do apocalipse socio-cultural, mas o clichê “O problema é a vida” tem sua parcela de razão. O problema está na vida, com a vida, com as pessoas. Como você disse, as regras do cyber-aqui valem como as do mundo real. E são desrespeitadas nos dois locais. Se fosse fácil um “então detone as pessoas” creio que já teria sido feito. Para que haja parcimônia, não é necessário que haja concordância e sim inteligência para discordar, com semancol de preferência.
Rafael
Concordo com você, as pessoas acham que é tudo livre e não precisam ter responsabilidade ao mesmo tempo que acham que está tudo perfeito.
Rafael Reinehr
Pois bem, falou com propriedade. Seria bom que, Nosferatt, participasses do chat amanhã lá no reinehr.org. Os assuntos a serem discutidos tem muito a ver com sua crítica.
Luis Santos
Aloha Nospheratt!As propostas pessoais na blogsfera são variadas e não se definem, em muitos casos.Ainda se percebe um conflito de egos, “fogueira das vaidades” deve ser o termo mais clássico. Quem busca ter credibilidade vive em um nicho que necessita disso.Alguns são besteirol puro. E há mercado para isso. O que é, em minha humilde opinião, realmente lamentável.Acredito que conseguir divulgar um conceito semelhante já seria um ganho considerável, pois não se pode servir a dois mestres.Nem que seja apenas para evitar generalizações realizadas por quem não entende. E compromete os objetivos originais de cada blog.Uma utopia realmente não vai passar disso, uma utopia, mas espero viver em, e deixar para minha filha, um mundo melhor.Com pessoas responsáveis pelo que fazem, comprometidas com suas idéias, assumindo suas responsabilidades e consequencias, nem santos nem heróis, apenas pessoas melhores.Valeu novamente e Aloha!
issamu
A cada dia que passa, cada vez que alguém monta um blog nesse país, mais eu acredito que a nossa realidade é diferente daquela que idealizamos.Queremos acreditar que a blogosfera é um mar de rosas. Mas temos muito lixo nesse meio. Sou otimista e acredito que boa parte desse lixo pode ser reciclado.
Natanael Mahon
No começo de setembro,já estava de saco cheio dessa turbulência, então descarreguei o que sentia num post que chamei de blarghsfera ou blogsfera: eu já tô de saco cheio. Espero que volte tudo a calmaria.
Bruno Fontes
Blogosfera, umbigosfera, credibilidade, responsabilidade e fap, fap, fap (by Cardoso)…Vamos ser sinceros? Ninguém está 100% certo ou 100% errado! (apesar deu concordar 100% com você)Já ví muita notícia errada em jornal (sem direito a errata depois), entrevistas manipuladas e todo o tipo de coisa… Se você assiste a mesma notícia em 3 veículos de comunicação diferentes, cada uma vai dar um enfoque, mudando assim o ponto de vista e a opinião dos leitores.A verdade toda é que existe muita preocupação com os Blogs, principalmente com os Blogs dos outros.Outra grande preocupação é sobre definições… “O que é um blog”, “Como um blog deve ser”, “Como um blogueiro deve agir” etc etc etc.Sinceramente, o melhor que a gente faz é ignorar isso tudo e continuar com o nosso Blog de sempre, pois assim ganhamos mais (e eu não estou falando financeiramente).
Ivo Neuman
Amém.Já pensou em pregar para multidões? Dizem que dízimos remuneram mais que Adsense…Excelente post. Perfeita expressão do MEU ponto de vista.
Fabio Santos
Sinceramente, Nosph…Estas escrevendo cada vez melhor (fostes buscar conceitos gregos!).Parabéns!