Contraditório Nada, O Cardoso é um Irresponsável Sem Noção

É uma vergonha, uma falta de respeito. Inqualificável. Vejam o que ele publicou:

A Internet, como um todo, pode sair do ar, ou mesmo ser racionada em nosso país.

Leia todo o post aqui: Apagão da Internet: Orkut vai sair do ar!

Ele com certeza deve estar se achando o tal por ter me enganado. A mim, e mais um monte de gente. Ele acha muito engraçado demonstrar que ele é mais inteligente do que o resto dos pobres mortais; se já é divertido tirar sarro das pobres salsinhas, imagino que será muito mais divertido tirar sarro de gente que de salsinha só tem a que comeu no almoço.

Eu estou triste, na realidade. Triste, porque ele abusou da confiança que tenho nele; sou leitora fiel de seus blogs, e o considero um cara extremamente inteligente. Por isso acreditei; imagine minha decepção quando descobri que tudo não passa de um hoax. Porra, Cardoso, onde fica tua credibilidade, tua responsabilidade, tua obrigação com o leitor?

Pausa para um Reality Check

Será que o Cardoso é mesmo um acólito de Satã? Vamos ver esse caso mais de perto.

1 – O post foi publicado no Carlos Cardoso, não no Contraditorium. Eu estava lendo no leitor de feeds e não reparei.

2 – Eu vi lá um link para “uma matéria do Terra“. Não cliquei para ver a tal matéria.

3 – A frase citada acima – A Internet, como um todo, pode sair do ar, – é simplesmente absurda. Eu não prestei atenção.

4 – Ele cita (sem link) o “especialista em sistemas Manoel D’Oro”. Eu não peguei essa referência à uma certa pessoa que eu podia jurar que sei quem é.

5 – Ele cita o famigerado “Comitê Gestor da Internet”, que não existe. Talvez – só talvez – se eu tivesse clicado no link da matéria, eu tivesse prestado atenção nisso. Pra não mencionar o fato de que o link aponta para um screenshot da matéria(!?), e não para a matéria em si.

Mesmo com todos esses sinais cavalares, eu acreditei (Não, ele não estava se referindo à mim, embora eu me encaixe no perfil :P). Para minha vergonha, não posso nem sequer afirmar que se tivesse dado de cara com o jpg eu teria percebido que era mentira, pois eu NÃO ESTAVA PRESTANDO ATENÇÃO. Eu acreditei; não que a Internet fosse sair do ar, mas não duvidei de que estivessem pretendendo bloquear sites como o YouTube e o Orkut.

Porque eu caí nessa?

Primeiro, porque eu não estava prestando atenção. Eu li apressadamente, absorvendo as informações que me pareceram relevantes, sem sequer perceber os absurdos que rodeiam as afirmações mais realistas (falta de planejamento e estrutura governamental, lentidão de acesso, traffic shaping, etc).

Mas o principal motivo é este: eu coloquei nas mãos de outra pessoa uma função que deve ser exercida entre minhas orelhas (e com alguma ajuda das tripas): determinar o que é verdade, e o que não. Eu ASSUMI que aquilo ali era verdade, mesmo havendo VÁRIOS indícios que deveriam ter, no mínimo, me deixado em dúvida.

De Quem é a Culpa?

Eu só me dei conta de minha tolice quando terminei de ler o post e fui ler os comentários. Fiquei envergonhada? Com certeza. Agora, você me diga: quem é o responsável de minha bobeada? Eu ou o Cardoso?

O pessoal que defende a credibilidade e a “Função social formadora de opinião dos blogs”, com certeza vai cair de pau em cima do Cardoso. Afinal, eu só fui salva porque tenho o hábito de ler comentários; mas as salsinhas não lêem comentários, e provavelmente muitas sairão repetindo o que ele escreveu.

Engraçado que ninguém fala na…

Responsabilidade do Leitor

Claro que não estou dizendo que vale tudo; apologia ao assassinato, por exemplo, é algo intrinsecamente errado. Mas querer que um blogueiro não publique nada que não seja uma verdade comprovada, é ridículo. Quem deveria se ater à essa regra (e frequentemente não o fazem) são os jornais e os noticiários.

Blogs são muito mais pessoais e opinativos – a menos que você se proponha especificamente ser uma fonte de notícias tão séria, impessoal e inatacável (!?) quanto os jornais e noticiários. Noves fora, a credibilidade e a responsabilidade (social ou não) que pode ser exigida de um blog é muito diferente da que pode ser exigida de um jornal.

Mas como eu disse, ninguém fala da responsabilidade do leitor. Pretender que o mundo lá fora seja um lugar completamente seguro, onde todas as informações oferecidas sejam corretas e verdadeiras, é no mínimo utópico. Cada um é responsável por si mesmo; cabe ao leitor discernir o que é informação correta, e o que é mentira deslavada. Mais ainda se a informação for importante, vital ou potencialmente perigosa.

Até porque, ninguém é perfeito. Nem os blogueiros. Se você não der com o nariz num hoax intencional, pode se dar de cara com um erro humano. É responsabilidade SUA se certificar de que o que estão lhe propondo é certo, correto, verdadeiro – seja uma receita de estragueobofe, seja um esquema piramidal que vai te fazer rico da noite pro dia.

E as opiniões, né. Eu tenho todo o direito de emitir minha opinião sobre o que quer que seja – exceto talvez sobre a vida privada dos demais. Ao emitir essa opinião, posso estar emitindo uma opinião certa ou errada; não acredito que só seja aceitável emitir uma “opinião com embasamento científico ou profissional”. Se algo tem embasamento científico ou profissional, é conhecimento, não opinião. Opinião é “eu acho que”, “acredito que”, “penso que”. Muito diferente de “eu sei que”.

E já que estamos falando do assunto, quem tem que ser imparcial e isento é juiz.

Finalizando com conclusões conclusivas

A credibilidade de um blogueiro não deveria nublar o bom-senso do leitor;

A responsabilidade de um blogueiro é a mesma de qualquer ser humano em qualquer outra área da vida: arcar com as consequências de seus atos. A decisão de quê coisas publicar, como e desde que ângulo é sua; as consequências dessa decisão recairão sobre você;

É ridículo exigir “responsabilidade social” de um blogueiro, para proteger as salsinhas (que neste momento devem estar organizando as marchas de protesto contra o fechamento da Internet); é absurdo querer mudar o mundo para salvaguardar o direito dos imbecis de acreditar em qualquer coisa que vêem pela frente, e tomar decisões baseados nisso;

É responsabilidade do leitor descobrir o que é verdade e o que é balela;

Sim, eu fiquei com vergonha de ter acreditado. Mas um Chá de Hortelã resolve tudo:

Eu não sou perfeita, respondi. Eu vou falar merda eventualmente. Se você não fala o que quer com medo de falar besteiras, é que você está atrás de uma perfeição que não existe. Você não é perfeita. Vai fazer bobagem. Vai falar bobagem. Você não sabe tudo. E é muita arrogância querer ser perfeita.

Concordo, pois sempre tive minha imperfeição assumida. Não como desculpa, mas como simples realidade.

E tenho dito.