Eu uso lentes de contato há algum tempo (tenho miopia leve). Não tenho óculos, embora esteja pensando em mandar fazer – só para emergências, porque nunquinha na vida que vou usar óculos. Pode me chamar de superficial, se quiser. 😛
Há pouco mais de um mês comecei a ter a impressão de que preciso mudar o grau das lentes de contato. Marquei consulta com a oftalmologista, logicamente.
A Hora do Espanto
Eu deteeeeeeeeeeesto sair de casa dia de semana, durante o horário de trabalho. Mas se tenho que ir consultar nesse horário, eu vou, né? Dia 18 de Outubro lá fui eu. Cheguei em hora. Me atenderam pouco depois.
Expliquei para a doutora o motivo da consulta. E ela ergueu a sobrancelha e perguntou: “Você não está usando os lentes agora, né?” E eu “Sim, mas eu trouxe o estojo para tirá-las para o exame“.
E ela, em tom reprovador: “Ahhhhhhhh, mas precisa ficar no mínimo 24 horas sem usar as lentes de contato antes do exame, porque senão pode dar diferença no grau.”
E eu: “#&%/#%&$#&%$/#&&“. Ok, eu não disse isso, mas foi o que pensei. O que eu disse, com um sorriso amarelo foi “Eu não sabia.”
A oftalmologista olhou com cara de fastio para a enfermeira e pediu para ela remarcar minha consulta. Resultado: dia 1º de Novembro tenho que ir de novo até lá, tendo feito o prévio “jejum” das lentes.
Agora, você me diga: como é que eu poderia ter sabido que tinha que ficar sem usar as lentes antes de consultar?! Nunca tive que trocar de grau antes, nunca precisei consultar com a oftalmologista após ter começado a usar os lentes.
Incompetência Full Mode ON
É incompetência pura que a pessoa que marcou minha consulta não tenha me dito isso. Se ela não sabe, deveria saber. Se não me disse porque não sabia qual era o motivo da minha consulta, deveria ter perguntado.
Eu é que não tinha como saber ou imaginar que usar as lentes pode afetar o resultado do exame – quando eu tiro elas de noite, vejo tão mal como sempre, do exato mesmo jeito que via antes de começar a usá-las.
Graças a essa incompetência, continuo usando o grau errado por mais duas semanas, e terei que interromper meu trabalho novamente para ir até lá. Imagine minha felicidade.
Onde Eles Erraram
- Não me deram informação suficiente, necessária, vital.
- Assumiram, sem base alguma, que eu tinha essa informação.
- A atitude da oftalmologista foi péssima. Ela deixou claro que achou uma bela merda o que aconteceu, e agiu como se a culpa fosse minha.
- Ninguém me pediu desculpas por me fazer perder tempo. Não teria resolvido nada, mas teria me deixado com uma impressão bem melhor e com menos gosto amargo na boca.
Ok, mas o que você tem a ver com isso?
Primeiro: Seu Leitor Não é Adivinho.
Isso é especialmente importante no tocante ao que você quer que ele faça – seja comentar, assinar seu feed, espalhar seus textos em redes sociais, comprar o que você tem para vender, etc.
Não assuma que ele tem toda a informação necessária, se você não tem base concreta para isso. Por exemplo, como estamos na Internet, é lógico assumir que as pessoas sabem usar email (você alguma vez conheceu alguém que usasse Internet mas não email?).
Não é lógico assumir que ele sabe o que são feeds. Ou Twitter. Ou Facebook.
Você não precisa explicar como funciona a Internet “tim-tim por tim-tim”. Mas não assuma coisas sem base lógica. Não assuma que ele vai encontrar o que você quer que encontre, se essas coisas estão escondidas no meio do seu layout. Não assuma que ele vai entender o significado críptico dos nomes engraçados que você deu para suas categorias. E assim por diante.
Pode ser que você não se preocupe com que as pessoas entendam ou façam coisas específicas. Tudo bem. Mas se você deseja um resultado X, ofereça informação suficiente para que o leitor possa fazer o que você deseja.
Segundo: Não Trate Seu Leitor Como Imbecil
Só porque ele não sabe o que você sabe, não significa que ele é um idiota – a menos que estejamos falando de saber respeitar as outras pessoas, discordar sem agredir, ser honesto, escovar os dentes, essas coisas básicas que mamãe ensinou.
Lembre que você não nasceu sabendo. Lembre que algo que para você é uma rematada obviedade, para outro é um mistério. Não trate seu leitor de forma condescendente, ou pior, desrespeitosa, porque ele fez uma pergunta deveras básica.
Você nem sequer tem a obrigação de responder perguntas. Mas tem a obrigação de tratar as pessoas com respeito. Mesmo que elas não saibam o que você acha que deveriam.
Terceiro: Reconheça Seus Erros e Peça Desculpas
Toooodo mundo faz merda de vez em quando. Até eu. 😉
O que nos diferencia uns dos outros é como lidamos com isso. Fazer de conta que nada aconteceu, ou pior, jogar a culpa no outro, é ridículo e derruba o conceito que esse outro possa ter de você.
Ao contrário do que muita gente pensa, reconhecer seus erros e pedir desculpas é sinal de fortaleza. E de caráter.
E no geral, vai colocar a outra pessoa do seu lado, ao invés de causar raiva e desejos de que você desapareça da face da terra.
Você Não É Insubstituível
Se eu pudesse, trocaria de oftalmologista. Não vou trocar porque só há dois na empresa onde tenho meu plano de saúde, e já tive más experiências com o outro.
No entanto, blogs existem aos milhões, e “trocar” de blog é tão simples como dar um clique em “Fechar” ou “Voltar”.
E você dificilmente vai recuperar um leitor depois que ele decidir que seu blog não vale a pena.
Images: Chispita_666 – Brian Kong – CC
Nestor - TST nwn
Pior que sempre caímos em algum desses erros… As vezes até eu tenho problemas para encontrar alguma postagem em meu blog, quem dirá o leitor! O bom é que sempre estou aqui disposto a aprender alguma coisa que me diferencei no meu nicho.
Gosto muito da forma como se expressa, você tem um perfil único. Não importa o tema você sempre dá show!
Abraços.
Arlane
Nospheratt, como sempre você disse tudo.
Há alguns meses venho tentando montar um blog e sempre me atento para esses detalhes: como meu leitor vai se orientar no layout? Ele vai entender o nome do meu post/categoria?
Nesse ritmo vão surgindo mais e mais perguntas, e lá se vão 6 meses de pesquisa em meta blogs e sites de templates… inclusive foi assim que eu vim para aqui 😀
Quanto ao blogueiro não ser insubstituível, não poderia existir verdade mais absoluta na blogosfera. Já enviei e-mails para blogs que nem sequer se deram ao trabalho de responder que receberam (sim, foi mais de uma vez), já enviei minha opinião sobre um certo podcast e ao ouvi-la sendo lida fiquei pasma com o evidente sarcasmo dos podcasters porque eu esqueci de colocar o nome da minha cidade (se tinha algo errado com ela era só não ler, certo?), dentre outras “ótimas” experiências que já tive por aí.
Eu leio vários blogs, e leio muito. Tento também ser participativa (na medida que minha coragem deixa rs), mas é frustrante quando um blogueiro me trata como leitora descartável. Pode até ser que eu seja, porque uma visita a menos dentre milhares de outras não deve fazer muita falta mesmo. Mas assim como eu faço propaganda e envio links dos blogs que eu gosto, eu também digo para os meus amigos “não perca tempo com aquele blog tal”.
Eu tenho alguma experiência com blogs e sei reconhecer também que alguns leitores “pegam pesado”. Colocam comentários desrespeitosos, não leem o post direito e fazem perguntas que estão mastigadas e respondidas lá, e por aí vai. Mas o que mais vejo é aquele blogueiro de “sucesso” se achando e distribuindo patadas, pensando que finalmente encontrou seu reino, o da Cocada Preta. Ele pode até ficar assim por muito tempo, e continuar sendo lido. Só que vai chegar um momento que seus leitores vão cansar, a (má) propaganda boca a boca vai chegar a níveis que ele não esperava, e o “sucesso” do blog dele vai para o lugar de onde nunca deveria ter saído: o ralo.
Se algum dia meu (futuro) blog tiver sucesso, lembrarei bem das suas dicas, Nospheratt. E não vou esquecer nunca, nunquinha mesmo, que é por causa do meu leitor que existe o meu blog. Sem leitor não há blog. E ponto final.